sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Moça bem educada

A nova miss America, Teresa Scanlan, 17 anos, representante do estado de Nebraska e eleita Miss America, tem uma particularidade (além de ter sido a mais nova já eleita pelo concurso) que chamou um pouco a atenção das pessoas: ela é uma homeschooler, isto é, teve a maior parte dos seus estudos foi feita em casa!
Oriunda de uma família de refugiados croatas que fugiram da guerra no início dos anos 90, Teresa Scanlan é muito culta, demonstra estar atualizada com as notícias mundiais e venceu o concurso em seu estado apresentando um trabalho sobre transtornos alimentares. O fato de não ter frequentado a escola não a impediu de ser aprovada nos exames requeridos para sua modalidade de educação antes da idade normal, estudando além do exigido.
Em seu blog, Teresa expressa a sua fé em Deus: “Eu sei que isso é exatamente o que Deus quer que eu seja, e Ele tem um plano para cada dia da minha vida, não apenas esse ano, mas a cada ano. Essa foi a minha oração, então, e tem sido a minha oração há seis meses e será sempre a minha oração. Nas próximas semanas no Miss America, e continuará sendo minha oração para o resto da minha vida. Se eu ganhar o título de Miss America, eu sei que é Sua vontade. Se eu não ganhar, e continuar nos próximos seis meses como Miss Nebraska, eu sei que é Sua vontade. Como é incrivelmente confortador saber que a minha vista está em Suas mãos!”
Com a premiação, Teresa vai cursar Direito na Patrick Henry College, onde se matriculam muitos homeschoolers. Ela não esconde suas pretensões de chegar até a Suprema Corte dos Estados Unidos e, quem sabe, a presidência do país.
Será uma nova Sarah Palin?
Enquanto isso, no Brasil...
O homeschooling é uma prática proibida no Brasil. Em 2008, um casal da cidade de Timóteo (MG) foi sentenciado por “abandono intelectual de menor” por não ter matriculado seus dois filhos adolescentes no sistema oficial de ensino, optando pelo ensino domiciliar.
Os pais foram processados civil e criminalmente a uma multa de 2 a 3 mil reais, e ainda podem perder a guarda dos filhos (Folha de S. Paulo, caderno cotidiano, 2.jun.2008). Curiosamente, o grave “delito” só foi percebido pela autoridade pública quando os dois filhos – mesmo sem jamais terem frequentado a escola – foram aprovados em 7º e 13º lugar na Faculdade de Direito de Ipatinga.
Os dois filhos, de 14 e 15 anos, não pretendiam ingressar na faculdade (nem estavam na idade para isso). O vestibular foi apenas um teste de conhecimento, onde os garotos superaram centenas de candidatos frequentes à escola.
A Justiça determinou então a aplicação de um exame para o ensino fundamental elaborado por 16 professores da rede estadual para verificar se o ensino ministrado pelos pais (que se organiza segundo o sistema da escola latina, que incluj gramática, aritmética, geometria, ética, dialética e retórica, mais astronomia, música e duas línguas estrangeiras – o inglês e o hebraico – somando 6 horas diárias de estudo em casa) tinha sido compatível com o currículo oficial.
Mas o teste era apenas uma “ilusão”. Os garotos receberam o currículo com apenas uma semana de antecedência e as questões do teste foram retiradas do ENEM e de vestibulares de outras universidades (apesar da Justiça ter determinado uma avaliação apenas do conhecimento compatível com o ensino fundamental, e não o médio). Mesmo assim, os garotos foram aprovados, e o processo cível continuou em andamento, com todas as penalidades possíveis.
Duplo padrão
Há milhares de famílias cujos filhos (por diversas razões) não frequentam a escola. Segundo o Ministério da Educação, apenas entre os beneficiários do Bolsa Família durante o primeiro bimestre de 2010, ao todo 40 mil crianças deixaram de ter a frequência mínima (85%) por motivo de desinteresse ou abandono escolar – ou seja, crianças que tiveram um percentual de presença próximo de zero – o que corresponde a 18% dos benefícios suspensos. Se a soma incluir os não-beneficiários, o total de crianças realmente abandonadas em seus estudos é ainda maior.
Não há punições para essas famílias. Eventualmente, os pais são chamados formalmente diante de um juiz para se comprometer com a presença diária na escola, mas a situação de desinteresse pela formação vai sendo “empurrado pela barriga” até a criança chegar à idade em que a família não é mais responsável por ela – ou seja, trajetória de rua, tráfico, Fundação Casa ou, talvez, até a morte. São milhares de pais ou mães cujos filhos não deixaram a escola para buscar um ensino melhor em casa, e sim para não ter ensino algum. Isso sim que é abandono!
Caso voltem a “estudar”, terão um aproveitamento quase nulo na escola (devido à falta de continuidade) e acabarão “subindo” nas séries correspondentes através da reclassificação por idade até chegarem ao fim do ensino médio, sem aprenderem nada. Há um tratamento inteiramente distinto por parte da autoridade pública e do sistema educacional, que hoje vive um colapso do ambiente escolar (apontado como a causa principal da adesão ao ensino domiciliar nos Estados Unidos... imagina no Brasil!).
O casal de Minas Gerais poderia muito bem ter seguido as facilidades que o estado proporciona a famílias desajustadas e sem o menor comprometimento com os filhos. Mas seguiram a justiça, e por isso estão sendo reprimidos.
Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão.”
1Timóteo 6.11

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