quinta-feira, 10 de março de 2011

Paz para todo o mundo

Olá, a paz... (como fazer a saudação ???)
Paz do Senhor, como os evangélicos pentecostais?
Graça e Paz, como geralmente os evangélicos não-pentecostais?
ou Paz e Bem, como os católicos?

É interessante observar como até mesmo a saudação cristã mais simples se submete às divisões existentes no cristianismo de nosso meio. Certamente, se eu fizesse uma comparação mais ampla, surgiriam ainda outras variações.

No entanto, essas variações correspondem ao contexto da cultura, e não necessariamente da fé. Procurei fazer uma pesquisa etimológica sobre a diferença entre "orar" e "rezar" e, pelo que consegui apurar, elas não existem quanto ao significado original dos termos. Nem existe essa diferença em outras línguas.

Contudo, não se pode simplesmente deixar de lado o contexto cultural, que nos remete a um significado de rezar ligado às “rezas” como recitações mecânicas, visando a um fim mágico, ou, pela sua quantidade e/ou intensidade, convencer Deus a mudar o destino pela insistência.

Sim, é bem isso que Cristo responde sobre não orar usando de vãs repetições (Mat 6.7).
Porém, no rigor que a abordagem da Escritura exige, essas vãs repetições (que constam no texto das versões protestantes - as católicas, cuidadosamente, apenas alertam para que "não multipliqueis as palavras") podem ocorrer tanto no rezar padronizado e contabilizado pelas contas do rosário, quanto na oração "forte" dos profetas ocasionais, cheia de cacoetes automáticos e imitativos em que parece que a língua, sozinha e descontrolada, assume o lugar da consciência no ser.

Querido, o Espírito Santo não é um bicho irracional que, incitado e acuado por uma sequência de glórias e aleluias, se esvai em vocábulos incompreensíveis para manifestação da glória de Deus. Na hora que for necessário interceder em oração, Deus quer a tua palavra sincera e o teu coração quebrantado, e tem toda a paciência do mundo para esperar até que venha a tua voz. O Espírito não falará por ti.
Se você aprendeu ou descobriu uma técnica pessoal para se fazer falar em "língua estranha", parabéns, bem-vindo ao mundo dos gentios, do paganismo e da feitiçaria.

Então, passar das crendices incubadas no catolicismo para uma ladainha evangélica repleta de palavras de guerra é um retrocesso?
De modo algum.

Não creio que o modo de passagem do catolicismo para a fé evangélica esteja nas minúcias doutrinárias que desenvolveram a Reforma protestante do século XVI (e que não fazem nenhum sentido hoje). É ridículo achar que católicos se preocupam com "fé e obras", enquanto que os evangélicos apenas com "fé", e mais ridículo ainda é que se dá ao trabalho de achar comprovações ocasionais da diferença de comportamente baseada nesse critério.
Não se deve desprezar a busca pela interação com a divindade que antes era inexistente, e é inevitável que boa parte da descatolicização tenha surgido da revolta genuína contra o obsoleto sistema de ritos encarnado no catolicismo tradicional - embora sempre existirá quem aprecie eles, na falta de coisa melhor. Claro que isso desemboca em uma onda de "conversões", mas esse não é o único caminho.

O perigo está em que, ao fazer tábula rasa de dois mil anos de cristianismo litúrgico e tentar construir uma fé exaustivamente alicerçada na Bíblia (como se fosse original), o evangelismo trilha as mesmas dúvidas de toda a longa trajetória da Igreja cristã - e, inevitavelmente, os mesmos erros. Por isso não é tão descabida assim a ideia de uma "reforma da Reforma" (embora seja inteiramente errada do ponto de vista histórico, pois não está se reformando a Reforma mas um reflexo distante desta para ser mais igual à própria Reforma).

Então vou terminar essa mensagem sem saudação alguma.
A todos somente a Paz, que é suficiente para expressar algo que está acima das diferenças culturais dentro da sociedade e que pensamos serem de fé.