sábado, 29 de janeiro de 2011

Eu penso que posso


“Não pense tal homem que receberá do Senhor coisa alguma; homem vacilante que é, e inconstante em todos os seus caminhos”

Tiago 1.6-8

A frase constante de “The Little Engine That Could” (clássico infantil que valoriza o otimismo e a determinação) pode ser bem o lema de Hermas de Roma, um autor do século II, cujo texto, O Pastor, foi escrito durante o período formativo da história cristã, logo após a morte dos Apóstolos.

Na ausência de uma autoridade apostólica, Hermas e seus contemporâneos buscaram o melhor jeito de conciliar o ensino que tinham aprendido dos apóstolos com a sua própria realidade, obtendo maior ou menor sucesso. O Pastor de Hermas é uma narrativa intrigante que força o leitor a revisitar ideias que são geralmente vistas como surgidas apenas na atualidade. Em seu livro, Hermas relata a visão de um anjo que lhe entregou lhe ensinou parábolas vestido como pastor de ovelhas.

Cerca de ¼ do texto é composto dedicado a mandamentos para uma vida santa para que Hermas recuperasse o favor de Deus, perdido após uma vida de pecado. Um desses mandamentos é o que o Pastor dirige aqueles que têm “fraqueza de fé”:

Não esteja tíbio sobre pedir a Deus sobre algo, dizendo a si mesmo, por exemplo: ‘Como eu posso pedir algo de Deus e receber o que peço, se pequei tantas vezes contra Ele?’ Não argumente dessa forma para si mesmo, mas volte-se para Deus com todo o seu coração e pergunte a ele sem hesitação, e você saberá a compaixão extraordinária dEle, porque Ele nunca o abandonará, mas cumprirá seu pedido de coração.... Assim, limpe seu coração de todo duplo ânimo e vista-se de fé, porque Deus é forte, e confie que você receberá todos os pedidos que fizer.

A fraqueza de fé de Hermas se manifestara em uma falta de confiança em sua relação e postura com Deus. Em sua forma mais avançada, ele começara a duvidar do que Deus havia prometido que faria com ele. Essa tibieza atrofiara a sua relação com Deus porque destruíra a confiança, e nenhuma relação pode funcionar sem confiança.

Como remédio contra a fraqueza de fé, o Pastor prescreve a própria fé. Assim como a dúvida destrói uma relação, a fé a reconstrói. O Pastor vê a fé como uma ação que tem um objeto: um homem fiel à sua esposa, um homem de negócios fiel aos seus contratos. Para Hermas, ser fiel significa ser fiel para Deus, confiando no que Deus tinha revelado para ele ser, e agindo apropriadamente na luz dessa revelação. Isto tinha aplicações imediatas e práticas na vida de Hermas, porque ele já estava em dúvida se poderia cumprir os mandamentos que o Pastor estava lhe dando. Hermas soube então que Deus tinha prometido prover força para a sua vida santificada, porém, em sua tibieza, ele agia como se não soubesse nada sobre a ação de Deus.

A reprimenda do Pastor a Hermas é instrutiva ainda hoje. A fraqueza de fé é uma doença insidiosa que frequentemente passa despercebida, mas tem um potencial destrutivo. A ignorância de Hermas sobre sua condição deveria sinalizar aos cristãos modernos que desejam vencer o obstáculo da falta de fé. Um bom começo para isso está em nossas orações. Quando fazemos nossos pedidos a Deus, nós o fazemos com fé, com uma expectativa condizente com o poder e generosidade que Deus demonstra ter nas relações conosco, ou nós fazemos de forma tíbia, colocando em dúvida se Deus concederá? Se nos acharmos na situação de Hermas, então precisamos vitaminar nossa fé. Um bom começo seria refletindo em quem Deus mostrou-se a si mesmo, o que pode ser encontrado tanto na Bíblia como em nossas vidas. Deus demorou milhares de anos para formar o Seu povo. Nossa responsabilidade é lembrar quem Ele é, como se revelou a nós, e como age conforme aquelas promessas. Felizmente, muitos trilharam por esse caminho antes de nós, e Deus esteve com eles. Depois de 4 mil anos de interação, podemos estar seguros de que Deus “é o mesmo ontem, hoje e eternamente”.

Por Jonathan Nichols, em http://evangelicaloutpost.com/archives/2010/11/i-think-i-can.html

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Maioria dos cristãos britânicos percebe marginalização

Pesquisa conduzida pela ComRes (para a Premier Christian Media) avalia que 81% dos que frequentam a igreja na Grã-Bretanha percebem que a marginalização dos cristãos é cada vez maior na mídia e na imprensa. A pesquisa também indicou que 77% percebem que essa marginalização ocorre na esfera pública, e 2/3 acham que existe também no mercado de trabalho. Essa percepção é maior em mulheres do que em homens.

A avaliação desse sentimento ocorre após incidentes que mostraram o aumento de ações anticristãs na Grã-Bretanha, ao mesmo tempo em que se desenvolve uma cara e pesada campanha difamatória movida por entidades como a British Humanist Association[i] e a National Secular Society.

Em janeiro de 2009, um conselho local cortou a verba de um asilo mantido por cristãos evangélicos porque sua direção recusou-se a responder sobre suas opiniões a respeito da homossexualidade.

Em fevereiro de 2009, foi divulgado publicamente que uma enfermeira cristã foi suspensa do hospital onde trabalha por ter se oferecido para rezar pela recuperação de um paciente.

Também em fevereiro de 2009, uma recepcionista escolar foi punida pela escola por ter enviado um e-mail aos amigos de sua igreja, pedindo orações por sua filha.

Em maio de 2009, o ministério da Igualdade anunciou que determinaria que as igrejas cristãs vão ser obrigadas a contratar homossexuais como instrutores para a juventude.

Em junho de 2009, uma cristã de 67 anos que reclamou contra a realização do evento ‘Gay Pride Parade’ em sua cidade, foi acusada pelo conselho de de ‘crime de ódio’ e interrogada pela polícia.[ii]

Em julho de 2009, um pregador que recitava a Bíblia em público foi impedido pela polícia local sob a acusação de ‘comentários homofóbicos e racistas’.

Na British Airways, uma comissária teve que acionar a Justiça porque seus empregadores exigem que ela esconda uma cruz que usa no pescoço.

Em julho de 2010, uma tutora legal que cuidada de uma adolescente muçulmana ameaçada pela família foi afastada por ter permitido que a menina (de 16 anos) se convertesse ao cristianismo.[iii]

Em novembro de 2010, uma enfermeira foi suspensa de seu trabalho por ter presenteado um colega com um livreto contrário ao aborto.

Em janeiro de 2011, os donos de uma hospedagem em Cornwall foram multados em 3.600 euros por restringirem os quartos apenas a casais heterossexuais.

Esse dado revela um aumento dessa preocupação, em relação a uma pesquisa similar feita no ano anterior pela mesma ComRes, que indicou que 2/3 dos cristãos percebem uma discriminação negativa maior do que qualquer outro grupo religioso no país – na ocasião, 44% dos entrevistados afirmou já terem sido ridicularizados por vizinhos, amigos ou colegas pelo fato de serem cristãos.



[i] a BHA recebeu 35 mil euros do governo trabalhista para fornecer ‘orientações’ para o ministério da Igualdade.

[ii] a acusação, nesse caso, foi julgada ‘desproporcional’ até pelo mesmo pelo líder ativista homossexual Ben Summerskill, e condenada também por comentaristas da mídia e por políticos.

[iii] sistematicamente, os conselhos locais tem excluído casais cristãos da fila de possíveis pais adotivos por causa da oposição por motivo de crença a uma escolha homossexual das crianças adotadas.

Por quê?

A imagem abaixo é de uma bandeira coberta com sangue, como resultado do ataque com bomba à igreja copta Qidissian, no Egito.

No ataque contra uma missa cristã de Ano Novo em Alexandria, em 1 de janeiro, resultou em 21 mortos e 79 feridos. Um ataque semelhante, no Iraque, durante a missa do Natal, teve saldo de 46 mortes.


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

De boatos e manifestos

Ainda sobre as eleições de 2010... pesam comentários, de um lado ou de outro, sobre como se deve dar a interferência das igrejas (ou ao menos dos crentes, pensando agir no interesse da religião) na esfera política.
Vejo que muitas ações que deviam ser condenadas foram aceitas como “parte do jogo” (como a multiplicação de boatos inverídicos), e outras que se incluem no dever de ação da igreja junto à sociedade foram vistas como uma interferência absolutamente indesejável, uma “americanização da política” (segundo a opinião de Bresser Pereira).
Tentar obstruir o envolvimento da igreja cristã em temas da sociedade alertando para o caráter laico do estado é puro farisaísmo. Cada cidadão e cada liderança tem o pleno direito de eleger um tema ou mais como essenciais para a tomada de decisão política, conforme a sua visão particular de mundo, que de modo algum tem que se ajustar a um estreitamento secular que “censura” determinados temas e limita a compreensão da realidade muito aquém do seu todo.
A mim, por exemplo, não me interessa a agenda dos partidos sobre a previdência social ou a privatização (até porque os políticos eleitos já se cansaram de prometer determinadas coisas e cumprir um programa totalmente diferente). Eu decido quais temas são importantes para as minhas decisões e vejo como perda de tempo comparar candidatos com posturas tão iguais.
Se a diferença está em questões morais (que inevitavelmente afetam a religião) é aí que podemos fazer escolhas.
O aborto
Dilma é abortista – deixou isso bem claro em 2007.
Não adianta reunir uma claque de cantores e pastores para dizer que mudou de compromisso quando seu próprio partido se recusa em abrir mão dessa posição, exigida pela estratégia feminista que se vincula ao partido. As duas primeiras versões do programa de Dilma previam a descriminalização do aborto. Na terceira, já não consta.
É claro que esse não deve ser o único critério para a escolha de uma candidata. Por mais que a esquerda religiosa procure obscurecer o espectro das escolhas e alegar falta de legitimidade da igreja cristã para falar desse tema, há elementos que não devem ser ocultados. Se os sindicatos e associações de classe podem fazer suas escolhas políticas, se movimentos “cristãos” de natureza obscura podem fazer suas escolhas políticas... por que as igrejas não?
Nas eleições dos últimos 20 anos, a esquerda religiosa sempre correu para defender nas igrejas o apoio a um determinado candidato, mas agora acha muito inconveniente que outros façam o mesmo.
Fez e continua fazendo
Pior ainda que os boatos mais absurdos (como o de que Michel Temer é um satanista), foi um “Manifesto dos Cristãos pela eleição de Dilma” que circulou com subscrições de 600 “líderes” religiosos (na realidade, quase todos militantes do PT) para obstruir manifestações “autoritárias e mentirosas” contra sua candidata.
O manifesto é um primor de submissão. Ele vez de tocar diretamente nas questões morais envolvidas na disputa eleitoral, prefere desviar para termos vagos, genéricos, que sugerem que o projeto do governo, mesmo pretendendo aprovar o aborto, está defendendo o direito à vida. O manifesto é tão acrítico que até a política externa – definida como “feliz”, mesmo com seu apoio a ditaduras homicidas e sua indiferença aos direitos humanos – é defendida.
Um manifesto submisso, descuidado, apressado e tão legítimo que conta até com as assinaturas uma “Paula Tejando” e um “Oscar A’lho” (confiram os números 535 e 536), ministros de uma improvável “Igreja do Amor Humano”.
(Ah, esqueceram de incluir no manifestos eleitores muito mais “decisivos”, como Edir Macedo, Samuel Ferreira ou Marcos Feliciano...)
Teólogos, pastores e padres podem errar. Aliás, costumam errar. Mas estão errando muito e errando demais. Como cegos conduzindo outros cegos, são vozes que vem há décadas tentando calar o povo de Deus. É com essa seriedade que tratam das coisas de Deus?

A casa dos horrores do aborto


Um relatório judicial de quase 300 páginas descreveu a clínica Gosnell, em Philadelphia, como um ambiente sujo e fétido, cujas condições de barbárie foram sistematicamente ignoradas pelas autoridades do estado da Pennsylvannia por mais de três décadas.
Na clínica, em que o rico Dr. Kermit Gosnell atendia a mulheres pobres desde 1979, geralmente imigrantes ou de minorias raciais, foram praticados milhares de abortos, muitas vezes em procedimentos tardios, após 20 semanas de gestação, quando os riscos são maiores – a lei estadual autoriza o aborto até 24 semanas, mas poucos médicos se arriscam a tanto. Um aborto (comum) custava cerca de 325 dólares, mas abortos “tardios” (até 30 semanas, além da lei) chegavam a 3 mil dólares. A clínica faturava de 10 a 15 mil dólares por dia.
Kermit Gosnell, de 69 anos, é um médico de família (sem especialização em obstetrícia), foi preso sob a acusação de 7 homicídios de bebês vivos (que após serem retirados foram retalhados com uma tesoura) e também de uma mulher que sofreu uma overdose de analgésicos enquanto aguarda pelo aborto. Além das condições precárias, a clínica não dispunha de enfermeiros treinados para o trabalho, e por isso quatro funcionários e a esposa do médico também foram indiciados.
Na técnica utilizada por Gosnell, o trabalho de parto era induzido nas pacientes no sexto ou sétimo mês de gestação. Então, o feto era retirado vivo do útero e depois decapitado, o que classifica o método como “aborto por nascimento parcial” (em que o bebê é retirado pelo corpo e então decapitado), uma modalidade proibida nos Estados Unidos desde 2000.
Apesar dos 46 processos movidos contra o médico, a inspeção regular da clínica foi suspensa em 1993, quando procuradores pró-aborto mudaram a política do estado.
No início de 2010, a polícia foi á clínica verificar uma denúncia sobre drogas e acabou encontrando sacos e garrafas com fetos abortados, além de um jarro de pés cortados sem nenhuma finalidade médica. O local cheirava a urina de gato, os móveis tinham manchas de sangue e animais circulavam livremente pela casa. Porém, pacientes brancas eram atendidas em uma ala reservada.
Autêntico cenário para um filme de terror.

Moça bem educada

A nova miss America, Teresa Scanlan, 17 anos, representante do estado de Nebraska e eleita Miss America, tem uma particularidade (além de ter sido a mais nova já eleita pelo concurso) que chamou um pouco a atenção das pessoas: ela é uma homeschooler, isto é, teve a maior parte dos seus estudos foi feita em casa!
Oriunda de uma família de refugiados croatas que fugiram da guerra no início dos anos 90, Teresa Scanlan é muito culta, demonstra estar atualizada com as notícias mundiais e venceu o concurso em seu estado apresentando um trabalho sobre transtornos alimentares. O fato de não ter frequentado a escola não a impediu de ser aprovada nos exames requeridos para sua modalidade de educação antes da idade normal, estudando além do exigido.
Em seu blog, Teresa expressa a sua fé em Deus: “Eu sei que isso é exatamente o que Deus quer que eu seja, e Ele tem um plano para cada dia da minha vida, não apenas esse ano, mas a cada ano. Essa foi a minha oração, então, e tem sido a minha oração há seis meses e será sempre a minha oração. Nas próximas semanas no Miss America, e continuará sendo minha oração para o resto da minha vida. Se eu ganhar o título de Miss America, eu sei que é Sua vontade. Se eu não ganhar, e continuar nos próximos seis meses como Miss Nebraska, eu sei que é Sua vontade. Como é incrivelmente confortador saber que a minha vista está em Suas mãos!”
Com a premiação, Teresa vai cursar Direito na Patrick Henry College, onde se matriculam muitos homeschoolers. Ela não esconde suas pretensões de chegar até a Suprema Corte dos Estados Unidos e, quem sabe, a presidência do país.
Será uma nova Sarah Palin?
Enquanto isso, no Brasil...
O homeschooling é uma prática proibida no Brasil. Em 2008, um casal da cidade de Timóteo (MG) foi sentenciado por “abandono intelectual de menor” por não ter matriculado seus dois filhos adolescentes no sistema oficial de ensino, optando pelo ensino domiciliar.
Os pais foram processados civil e criminalmente a uma multa de 2 a 3 mil reais, e ainda podem perder a guarda dos filhos (Folha de S. Paulo, caderno cotidiano, 2.jun.2008). Curiosamente, o grave “delito” só foi percebido pela autoridade pública quando os dois filhos – mesmo sem jamais terem frequentado a escola – foram aprovados em 7º e 13º lugar na Faculdade de Direito de Ipatinga.
Os dois filhos, de 14 e 15 anos, não pretendiam ingressar na faculdade (nem estavam na idade para isso). O vestibular foi apenas um teste de conhecimento, onde os garotos superaram centenas de candidatos frequentes à escola.
A Justiça determinou então a aplicação de um exame para o ensino fundamental elaborado por 16 professores da rede estadual para verificar se o ensino ministrado pelos pais (que se organiza segundo o sistema da escola latina, que incluj gramática, aritmética, geometria, ética, dialética e retórica, mais astronomia, música e duas línguas estrangeiras – o inglês e o hebraico – somando 6 horas diárias de estudo em casa) tinha sido compatível com o currículo oficial.
Mas o teste era apenas uma “ilusão”. Os garotos receberam o currículo com apenas uma semana de antecedência e as questões do teste foram retiradas do ENEM e de vestibulares de outras universidades (apesar da Justiça ter determinado uma avaliação apenas do conhecimento compatível com o ensino fundamental, e não o médio). Mesmo assim, os garotos foram aprovados, e o processo cível continuou em andamento, com todas as penalidades possíveis.
Duplo padrão
Há milhares de famílias cujos filhos (por diversas razões) não frequentam a escola. Segundo o Ministério da Educação, apenas entre os beneficiários do Bolsa Família durante o primeiro bimestre de 2010, ao todo 40 mil crianças deixaram de ter a frequência mínima (85%) por motivo de desinteresse ou abandono escolar – ou seja, crianças que tiveram um percentual de presença próximo de zero – o que corresponde a 18% dos benefícios suspensos. Se a soma incluir os não-beneficiários, o total de crianças realmente abandonadas em seus estudos é ainda maior.
Não há punições para essas famílias. Eventualmente, os pais são chamados formalmente diante de um juiz para se comprometer com a presença diária na escola, mas a situação de desinteresse pela formação vai sendo “empurrado pela barriga” até a criança chegar à idade em que a família não é mais responsável por ela – ou seja, trajetória de rua, tráfico, Fundação Casa ou, talvez, até a morte. São milhares de pais ou mães cujos filhos não deixaram a escola para buscar um ensino melhor em casa, e sim para não ter ensino algum. Isso sim que é abandono!
Caso voltem a “estudar”, terão um aproveitamento quase nulo na escola (devido à falta de continuidade) e acabarão “subindo” nas séries correspondentes através da reclassificação por idade até chegarem ao fim do ensino médio, sem aprenderem nada. Há um tratamento inteiramente distinto por parte da autoridade pública e do sistema educacional, que hoje vive um colapso do ambiente escolar (apontado como a causa principal da adesão ao ensino domiciliar nos Estados Unidos... imagina no Brasil!).
O casal de Minas Gerais poderia muito bem ter seguido as facilidades que o estado proporciona a famílias desajustadas e sem o menor comprometimento com os filhos. Mas seguiram a justiça, e por isso estão sendo reprimidos.
Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão.”
1Timóteo 6.11

A Bíblia em Naïf

A arte naïf – antigamente chamada de arte “ingênua” ou primitivista – é um gênero caracterizado por obras simples, sem muita preocupação com a perspectiva, mas que geralmente resulta em obras com grande colorido e vivacidade.

As obras a seguir fazem parte de uma exposição do pintor Aloísio Dias da Silva, retratando passagens inspiradas na Bíblia.

Expulsão de Adão e Eva do Paraíso

Abel e Caim

Destruição de Sodoma e Gomorra

Abraão e Isaque

José é vendido por seus irmãos

Moisés

Balaque e Balaão

As muralhas de Jericó

Davi e Golias

Sabedoria de Salomão

A rainha de Sabá em visita ao rei Salomão

A fuga para o Egito

Jesus orando e os discípulos dormindo

Ressurreição de Lázaro

A ressurreição de Cristo

A urgência do "cercadinho"

Me chamou atenção uma detalhe na matéria “A mexicana Homex tropeça no Brasil” (Estado de S. Paulo, caderno Negócios, 27.set.2010), que trata de algumas dificuldades de uma gigante do setor de construção de casas populares (capaz de erguer uma casa em 7 dias!) para se adaptar ao gosto e à forma de trabalho no Brasil.

“O projeto original dos imóveis teve que ser adaptado aos padrões brasileiros (...) Muitos já iniciaram seus puxadinhos no fundo de casa e ergueram muros para se sentirem mais seguros

Ou seja, os moradores das casas recém-construídas, que tinham apenas o básico, priorizaram cercar a casa com muros baixos – imagino que não tenham tido tempo para erguer muros altos – sobre outras melhorias necessárias para suas residências, como um banheiro melhor ou telhados em vez da laje impermeabilizada.

A providência dos moradores de São José dos Campos – e imagino que em Campo Grande e Marília não será diferente - de erguerem pequenos “muros para se sentirem mais seguros” é puramente simbólica.

Nós sabemos que a garantia de segurança não é suficiente com muros pequenos, que mal protegem o terreno contra a entrada de cachorros. Hoje em dia apenas com verdadeiras muralhas, revestidas com cerca eletrônica e, se possível, com sistema de alarme e/ou câmeras, é que os moradores podem se sentir mais seguros. Contudo, se observamos em residências mais antigas (ou mesmo em cidades de menor porte, onde o problema de segurança é menor) a presença de pequenos muros em volta das casas é quase uma regra, apesar da efetiva pouca proteção que esses muros oferecem, em contraste com a residência típica dos Estados Unidos, que é aberta, com um gramado que vai até o limite da calçada.

Então, por que o brasileiro se apressa em levantar um muro para o seu terreno?

A resposta não pode ser encontrada na herança histórica das paliçadas dos colonizadores, nem no estilo de habitação das aldeias indígenas. O muro tem mais a ver com a concepção do sociólogo Roberto DaMatta sobre o limite entre “casa” e “rua”.

Ao contrário da moralidade explícita do norte-americano (sob a herança do puritanismo inglês), que não faz limite entre o acontece e deve acontecer dentro da família ou fora dela, a moralidade brasileira levanta uma distinção intransponível entre os dois âmbitos. Fora de casa, ou seja, na “rua”, o indivíduo está sujeito à moral pública, e deve se portar com a indumentária moral que a sociedade espera. Porém, em “casa”, ele é responsável pela sua própria moral. O muro representa simbolicamente a fronteira entre esses dois ambientes.

Vemos uma aplicação prática dessa distinção damattiana no julgamento popular – porque legalmente, nunca houve julgamento algum – do senador Renan Calheiros, bem distinto do que aconteceu, por exemplo, com Bill Clinton nas mãos do procurador Ken Starr.

O juízo popular contra o senador sempre foi contra a atuação do senador junto aos lobbys empresariais e, espetacularmente, à venda de suas vacas “superfaturadas”.

Mas nunca houve juízo moral sobre o fato de ter tido uma relação extraconjugal e uma filha com a jornalista Mônica Veloso. As vacas estão no ambiente pública, a “rua” – sujeitas a um julgamento público que acabou nunca acontecendo – Renan foi reeleito senador para mais um mandato de 8 anos na última eleição.

Já a relação com a jornalista – o que, ao que parece, sequer abalou o casamento do senador – pertence à “casa”, e sobre ele não cabe nenhum juízo fora de seu reinado familiar.