Na
realidade, esse tipo de reportagem é sazonal. Todo final de ano, na edição que
precede ao Natal, as grandes revistas brasileiras publicam alguma reportagem
(ora positiva, ora negativa) sobre Jesus Cristo, Igreja ou algum tema relacionado
à religião, e que solenemente é deixado de lado no restante do ano. Menos mal,
considerando que o Natal é um período de concorrência atroz entre o Cristo da
manjedoura e o Papai Noel das lojas e promoções.
Contudo,
essa reportagem me fez lembrar de um filme que assisti há algum tempo, Stigmata (1999) – é ruim, eu não
aconselho – com Gabriel Byrne no papel de um padre que tem acesso a um evangelho
apócrifo escondido pela Igreja católica e precisa investigar uma série de
eventos sobrenaturais, casualmente em um Brasil caricato. Nesse apócrifo, está
uma mensagem que abalaria as estruturas da Igreja (“Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”).
Para
evitar que tal mensagem impactante, que se repete miraculosamente (e que não
tem nada de mais, é igual a Atos 17.24), venha a ser conhecida do público, a
Igreja elimina uma série de inimigos que tiveram acesso a esse segredo, inaugurando
uma temática muito explorada nos últimos anos.

Somente
poderíamos aceitar um certo vigor do cristianismo brasileiro se víssemos o
aparecimento de obras teológicas importantes, novos comentários bíblicos, a
participação de linguistas brasileiros na tradução de documentos antigos, ou o
envio em boa quantidade de missionários a outros continentes. Infelizmente, segundo
Russel Sheed, há menos de um missionário transcultural para cada 10 mil crentes
e quase todas as publicações teológicas são traduções de trabalhos estrangeiros.
O
que o cristianismo brasileiro não pode reclamar é da música (especialmente a
evangélica) e do surgimento de igrejas. Nesse contexto, não é anormal que
algumas delas sejam gigantescas. Se for para atender uma necessidade de se
reunir 25, 30 mil pessoas, é natural que se pense na construção de templos
realmente de grande tamanho.
O
que não é compreensível é que um Templo apresentado para ser um dos mais
imponentes do mundo, seguindo os moldes do templo de Salomão na Jerusalém bíblica,
disponibilize apartamentos, área de lazer com sauna e churrasqueira, como se a
igreja fosse a extensão da casa do seu próprio líder-proprietário.
Não
é à toa que as igrejas evangélicas que estão erguendo os templos de maior
magnitude (e que só o futuro dirá se serão concluídos, ou que serventia terão
nos próximos anos) são aquelas para as quais o dízimo bíblico é insuficiente
para suas metas de auto-promoção. A primeira delas é a criadora da ‘Fogueira
Santa’, um rito sacrificial no qual o nome de Deus é invocado para satisfazer a
ambição humana. A outra é a inventora do ‘trízimo’.
Nenhuma
dessas criações é representativa de qualquer vigor para o cristianismo.
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