terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Banda Catedral: 10 anos depois

Recentemente, o vocalista Kim, da banda Catedral, usou o facebook para justificar a sua transição de grupo gospel para o estilo ‘pop/rock’, e que até hoje deixa ex-fãs perplexos.
Segundo Kim (apelido do músico carioca Joaquim Cezar Motta), o grupo mudou de estilo porque seus ex-fãs “fanáticos religiosos” não entenderiam a sua música e sua postura artística: “Na boa, aqui não é lugar para vocês... Não trabalhamos para vocês! Nem desejamos vocês como fãs? Entenderam? Obrigado...
Por motivos óbvios, não participei da fase ‘gospel’ do Catedral.
Na época, esse estilo nem tinha esse nome. Eram, em sua maioria, duplas ou artistas solo que usavam apenas o termo ‘música evangélica’, até porque a denominação ‘gospel’ pertencia por registro ao maquiavélico apóstolo-empresário Estevam Hernandes. Ser um músico evangélico implicava (até então) em uma regra de simplicidade mantida a todo custo. Nada de roupas extravagantes, nem cabelos espetados com gel. Fãs, cachês, autógrafos... nem pensar! Todos eram seguidores apenas de Jesus.
Na década de 90 o Catedral era conhecido como uma das mais expressivas bandas do segmento do rock evangélico e já distinguia por algumas afinações de voz dissonantes e uma temática que fugia do lugar comum da arte a serviço do evangelismo. Achei natural que optassem por se dissociar definitivamente do público evangélico para seguir um outro estilo – como já fizeram algumas bandas nos Estados Unidos.
Nada disso significa negar a fé, e é outro ponto que precisa ficar bem claro.
A virada estilística do Catedral foi muito mal compreendida (já que muitos viram como sinônimo de apostasia) e gerou uma série de respostas e provocações que teve seu auge em 2001, quando o grupo concedeu uma entrevista ao Usina do Som (divisão do grupo UOL) dizendo poucas e boas do segmento gospel, que jamais tinham sido uma banda gospel, que era apenas um mal-entendido, que criticavam descaradamente a religião e o público nem se dava conta, etc.
Hoje, o Catedral jura que a entrevista era falsa, que não disseram tudo aquilo. Uma série de acusações levou a um processo contra a antiga gravadora, MK Produções, por difamação. Uma pesquisa por pontuação (sem valor estatístico) mostra que o grupo nunca se dissociou de sua imagem gospel.
Kim é aquele imitador da voz do Renato Russo. Ele detesta admitir isso, fica irritado, mas o fato é que o grupo fez até uma paródia do Faroeste Caboclo (chamada “Pedro Zé Um Nordestino”), em que pinta uma crítica rotunda à moral evangélica – sem deixar a mensagem cristã, fique-se bem entendido. Com um discurso politizado, Kim critica o estilo ‘louvação’ da música evangélica e defende a sua música formadora de opinião, com seu público seleto e diferenciado – ou, seria melhor dizer, pequeno (os “catedráticos”). Dessa forma, a banda ficou à parte da explosão gospel da última década e que, curiosamente, vem embarcando até alguns artistas seculares de moral duvidosa (de Latino até Belo).
Alguns dizem que o Catedral voltou atrás porque seu novo público do ‘mundo’ não correspondeu às suas expectativas de venda – o que os números não negam, nem confirmam. Desde 2005, o grupo tem contrato com a New Music, o braço da Record na música secular.

Em 2010, a banda ganhou a causa que tinha na justiça do RJ contra a MK – que, maledicências à parte, fez por merecer o processo. É curioso, mas a banda acabou lucrando justamente em cima dos fanáticos e fundamentalistas que optou por se livrar.

2 comentários:

carloshenrique disse...

Leandro, com todo o respeito. No seu perfil está assim:
Sexo: Feminino.
Você pode ter colocado errado ou sem perceber como se tu fosses do sexo feminino.
Se foi um descuido é melhor corrigir antes que alguém com más intenções veja tal coisa.
Atenciosamente, Carlos Henrique.

Leandro Matias Deon disse...

Muito obrigado.
De fato, foi um esquecimento.
Abraços!